sábado, 22 de novembro de 2008

POEMA (Dom Quixote da seringa)

DOM QUIXOTE DA SERINGA

O homem de pele amarela!
quebrou o jejum bem cedo (pirão de guariba e chá de cidreira)
com a roupa defumada
entranhada de leite de seringa
se jogou no varadouro
e foi cortar

O homem da pele amarela!

Às costas o jamaxim
tão assim grudado
que arrancá-lo antes da noite
é como tirar couro de veado
para patrão comer
é difícil como o saldo
hô diacho!

Vai dentro dele
tabaco para mascar
uma mão de farinha
sua amiga enfadonha
a poronga
uma lasca de jabá
uma faca assassina
que fere a árvore
de onde escorre um sangue branco

O homem da pele amarela!

Levantou bem cedo
comeu pão com café
calçou sua sandália de borracha
caminhous nas ruasdesertas de seringueiras
venceu oito quarteirões
e cinco dúzias de arranhas-céus
e se acabou numa fila do funrural
amarelo e sem sangue

O homem da pele amarela!

(Fernando Sérgio Escócio Drummond Viana de Faria),

Antologia de Poetas Paraenses, 1984,
Coordenação de João do Rego Gadelha,
©SHOGUN ARTE, 1984

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